Arapaçu-de-bico-torto é registrado pela primeira vez em Iracemápolis, SP
Espécie não é comum para a região. Fotógrafo conseguiu foto por acaso. Alguma vez na vida você já fez algo com um certo objetivo, não pôde alcançá-lo...
Espécie não é comum para a região. Fotógrafo conseguiu foto por acaso. Alguma vez na vida você já fez algo com um certo objetivo, não pôde alcançá-lo, e quando menos esperava conseguiu? Foi assim que o fotógrafo Tiago Degaspari descreveu o momento em que, quase por acaso, capturou o primeiro registro do arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius) para a cidade de Iracemápolis (SP). Tudo começou no final de semana do dia 12 de outubro, quando Tiago visitou uma grande Reserva Florestal na Serra do Mar entre as cidades de Tapiraí (SP) e Miracatu (SP) com o objetivo de fotografar algumas espécies, entre elas o arapaçu, que acabou não aparecendo na ocasião. Após a tentativa, uma semana depois, no dia 21 de outubro, o fotógrafo resolveu dar uma volta por Iracemápolis, cidade perto de Limeira, onde reside, em alguns pontos de mata que costuma frequentar em busca de algumas espécies migratórias e acabou tendo uma surpresa. “Logo ao parar no primeiro ponto, procurei pelo caneleiro-preto e quem apareceu vocalizando para minha surpresa foi o arapaçu-de-bico-torto. Não acreditei quando vi a espécie que tinha faltado na Serra da Mar, bem ali, praticamente no quintal de casa bem na frente dos meus olhos”, diz Tiago. Arapaçu-de-bico-torto é registrado pela primeira vez em Iracemápolis Tiago Degaspari A recompensa inesperada chegou como um presente da natureza, tornando o clique um marco importante para a comunidade de observadores de aves da região, já que a espécie não possuía registros na cidade desde então. “Costumo dizer que tudo é possível na fotografia de natureza, mas realmente jamais pensaria que o arapaçu-de-bico-torto poderia ser fotografado a 10 minutos da porta da minha casa. A fotografia de natureza nos surpreende o tempo todo”, diz o fotógrafo. Segundo ele, a conquista pessoal impacta sua carreira como fotógrafo, servindo como motivação para continuar fotografando outras espécies. “A fotografia de natureza, afinal, não é das mais fáceis, já que envolve muitas adversidades e situações incontroláveis que precisam ser enfrentadas enquanto se procura uma espécie, sem qualquer garantia de sucesso. Mesmo assim, é preciso persistir, e quando finalmente dá certo, é como receber um pequeno prêmio”, explica Tiago. Tiago Degaspari é fotógrafo profissional formado em fotografia pela UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba) e autor dos livros Passarinhar em Iracemápolis (2012), BH Nossa Natureza (2017) e Inspira Cacau (2022), atuando também como professor de fotografia. Além do arapaçu-de-bico-torto, Tiago já fotografou outras espécies que considera como destaques pessoais, como um soldadinho (Antilophia galeata) durante a produção das fotografias para o Projeto Passarinhar em Iracemápolis, águia-pescadora (Pandion haliaetus), anhuma (Anhima cornuta), jacurutu (Bubo virginianus), falcão-peregrino (Falco peregrinus), tesourinha-da-mata (Phibalura flavirostris) e uma onça-parda (Puma concolor). Falcão-peregrino Tiago Degaspari “Espero que com as fotografias que eu faço e tantos outros colegas profissionais e amadores consigamos em algum momento despertar na sociedade a necessidade de conviver em equilíbrio entre sociedade e natureza”, informa. A espécie O arapaçu-de-bico-torto pode ser encontrado no Brasil desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, em matas e taquarais de qualquer altitude, além de ocorrer também na Argentina e no Paraguai. Essa espécie de arapaçu se distingue das outras por ter o bico preto e não avermelhado, que chega a medir 6 cm. Ao lado de outros arapaçus, explora ocos de árvores e bambus perfurados. Além do Brasil, arapaçu-de-bico-torto ocorre também na Argentina e Paraguai Rudimar Cipriani Sua dieta é geralmente baseada em insetos, mas há registro de pequenos anfíbios também. Por conta do comprimento do bico fino e curvado, a espécie tem facilidade de procurar alimento em fendas profundas, enfiando o bico longo até a testa, em ocos e fendas de galhos. Pode ser encontrado em florestas de altitude e florestas secundárias, geralmente próximo a bambus, e nidificam em ocos de árvores. Casualmente, acompanha bandos mistos. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente